segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Festa milenar, que rendeu o filme "Cruzes ao Vento", move a fé em Ipoema

Texto do jornalista José Sana publicado originalmente em http://www.defatoonline.com.br/colunas/jose-sana
Afra Sana e equipe durante as gravações do documentário "Cruzes ao Vento". Foto Roneijober Andrade

Em uma data bem distante — diriam os evangelhos “naquele tempo” — a futura Santa Helena, mãe de Constantino, pioneiro imperador católico de Roma, promoveu a Primeira Festa de Santa Cruz para comemorar a descoberta daquela que seria a  verdadeira “Cruz de Cristo”. No início do século 20, por volta de 1910, é celebrada, em Ipoema, distrito de Itabira, Minas Gerais, Brasil, precisamente na localidade de Morro Redondo, como em vários locais do mundo, uma entusiasta procissão que se estende por 12 quilômetros, quase sempre morro acima e sob a terra não tão batida.
A importância daquela caminhada pode ser vista hoje no filme “Cruzes ao Vento”, produção de Afra Sana (será a verdadeira Santa Helena?)  minha prima cineasta, em parceria com o produtor Laudimir Vieira (por enquanto não imperador romano) que está prestes a ser lançado (o filme e não o imperador), com o apoio da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Lei Drummond) e a efetiva participação da Transportes Cisne Ltda., empresa itabirana há 45 anos, e uma dedicação ímpar de duas figuras dominadas por total amor à causa: o gerente-geral Albino Pinheiro e a secretária Eliana Moreira. Frise-se também a notória importância de Juliana Carolina Alves Dias, então presidente do Conselho Itabirano de Cultura.
Meu nome aparece como diretor-executivo, mesmo sendo eu simplesmente pregador de ferradura em burros na Feira Livre de Capelinha, que fui obrigado a aceitar a imposição porque apenas me entusiasmei com a história e a sua importância. Participei não apenas do filme, mas também de alguns passos da iniciativa de Roneijober Andrade de conquistar a confiança e o entusiasmo da escultora internacional Vilma Nöel, que construiu com muito amor, além da escultura “Anjo do Destino”, duas belas peças que ornamentam a capela — essa uma reconstituição inédita — do Divino Espírito Santo e do verdadeiro dono do espaço, o Senhor do Bonfim. Nesta altura,  pode-se transferir para Roneijober o título de Imperador Romano dos dias atuais, no lugar de Constantino.
Segundo a história, Santa Helena, ajudada pelo filho Constantino e pelo bispo São Macário, de Jerusalém, visitou a Terra Santa, e lá foi iniciada uma série de escavações na busca da cruz até descobrirem o “Santo Sepulcro”, anteriormente coberto de entulho pelo romanos. A data de 3 de maio de 326 d.C. ficou como marco da descoberta proposta. Só que encontraram três cruzes, além de cravos, e havia a necessidade de se descobrir qual teria sido a de Cristo porque havia com Jesus Cristo os dois ladrões. Nessa perplexidade, ocorreu uma solução ao Bispo Macário: mandou tocar uma delas numa mulher muito doente, certo de que a Providência se manifestaria para revelar qual a verdadeira Santa Cruz. Ao contato com a primeira e a segunda, nada ocorreu. Quando, porém, lhe foi tocada a terceira, a mulher imediatamente recobrou por completo a saúde. Não havia mais dúvida de aquela  teria sido a verdadeira cruz.
Como um novo marco do acontecimento, tinha sido promulgado pelo Imperador Constantino o Édito de Milão, documento oficial que proibiu a perseguição aos cristãos, mesmo sendo 13 anos antes.. E não é para menos que a sabedoria do povo ipoemense, concentrada não só na sede do distrito, mas também em Morro Redondo, onde foi erigida há cerca de um centenário a Capela do Senhor do Bonfim, reconstruída recentemente sob a supervisão um tanto quanto barroca de Roneijober Andrade. Do trabalho de toda essa nova estruturação, para retornar os acontecimentos ao tempo do Império Romano, participam da mobilização pró-Morro Redondo habitantes das localidades próximas de  Cutucum, Montes Claros, Cachoeira das Pedras, Chapada Olaria, Mundo Vira, Botica, Laranjeiras, Ipocarmo, Duas Pontes, Cachoeira Alta, Carioca, Boa Vista Mata Grande, Bom Jardim,Conquista, Vargem dos Coutos, entre outros lugares. São esses e outros mais  os povos brasileiros, impoemenses que deram sequência a uma festa importante, milenarmente tradicional.