Texto do jornalista José Sana publicado originalmente em http://www.defatoonline.com.br/colunas/jose-sana
Em uma data bem distante — diriam os evangelhos “naquele tempo” — a
futura Santa Helena, mãe de Constantino, pioneiro imperador católico de
Roma, promoveu a Primeira Festa de Santa Cruz para comemorar a
descoberta daquela que seria a verdadeira “Cruz de Cristo”. No início
do século 20, por volta de 1910, é celebrada, em Ipoema, distrito de
Itabira, Minas Gerais, Brasil, precisamente na localidade de Morro
Redondo, como em vários locais do mundo, uma entusiasta procissão que se
estende por 12 quilômetros, quase sempre morro acima e sob a terra não
tão batida.
A importância daquela caminhada pode ser vista hoje no filme “Cruzes ao
Vento”, produção de Afra Sana (será a verdadeira Santa Helena?) minha
prima cineasta, em parceria com o produtor Laudimir Vieira (por enquanto
não imperador romano) que está prestes a ser lançado (o filme e não o
imperador), com o apoio da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade
(Lei Drummond) e a efetiva participação da Transportes Cisne Ltda.,
empresa itabirana há 45 anos, e uma dedicação ímpar de duas figuras
dominadas por total amor à causa: o gerente-geral Albino Pinheiro e a
secretária Eliana Moreira. Frise-se também a notória importância de
Juliana Carolina Alves Dias, então presidente do Conselho Itabirano de
Cultura.
Meu nome aparece como diretor-executivo, mesmo sendo eu simplesmente
pregador de ferradura em burros na Feira Livre de Capelinha, que fui
obrigado a aceitar a imposição porque apenas me entusiasmei com a
história e a sua importância. Participei não apenas do filme, mas também
de alguns passos da iniciativa de Roneijober Andrade de conquistar a
confiança e o entusiasmo da escultora internacional Vilma Nöel, que
construiu com muito amor, além da escultura “Anjo do Destino”, duas
belas peças que ornamentam a capela — essa uma reconstituição inédita —
do Divino Espírito Santo e do verdadeiro dono do espaço, o Senhor do
Bonfim. Nesta altura, pode-se transferir para Roneijober o título de
Imperador Romano dos dias atuais, no lugar de Constantino.
Segundo a história, Santa Helena, ajudada pelo filho Constantino e pelo
bispo São Macário, de Jerusalém, visitou a Terra Santa, e lá foi
iniciada uma série de escavações na busca da cruz até descobrirem o
“Santo Sepulcro”, anteriormente coberto de entulho pelo romanos. A data
de 3 de maio de 326 d.C. ficou como marco da descoberta proposta. Só que
encontraram três cruzes, além de cravos, e havia a necessidade de se
descobrir qual teria sido a de Cristo porque havia com Jesus Cristo os
dois ladrões. Nessa perplexidade, ocorreu uma solução ao Bispo Macário:
mandou tocar uma delas numa mulher muito doente, certo de que a
Providência se manifestaria para revelar qual a verdadeira Santa Cruz.
Ao contato com a primeira e a segunda, nada ocorreu. Quando, porém, lhe
foi tocada a terceira, a mulher imediatamente recobrou por completo a
saúde. Não havia mais dúvida de aquela teria sido a verdadeira cruz.
Como um novo marco do acontecimento, tinha sido promulgado pelo
Imperador Constantino o Édito de Milão, documento oficial que proibiu a
perseguição aos cristãos, mesmo sendo 13 anos antes.. E não é para menos
que a sabedoria do povo ipoemense, concentrada não só na sede do
distrito, mas também em Morro Redondo, onde foi erigida há cerca de um
centenário a Capela do Senhor do Bonfim, reconstruída recentemente sob a
supervisão um tanto quanto barroca de Roneijober Andrade. Do trabalho
de toda essa nova estruturação, para retornar os acontecimentos ao tempo
do Império Romano, participam da mobilização pró-Morro Redondo
habitantes das localidades próximas de Cutucum, Montes Claros,
Cachoeira das Pedras, Chapada Olaria, Mundo Vira, Botica, Laranjeiras,
Ipocarmo, Duas Pontes, Cachoeira Alta, Carioca, Boa Vista Mata Grande,
Bom Jardim,Conquista, Vargem dos Coutos, entre outros lugares. São esses
e outros mais os povos brasileiros, impoemenses que deram sequência a
uma festa importante, milenarmente tradicional.
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